Quem anda pelas praias, principalmente do norte da ilha, consegue visualizar muito bem o que diz o Moacir Pereira neste artigo.
Nossa ilha está próxima de um caos. O excesso de turistas, sem que os governantes tenham se preparado para a recepção deles, a falta de educação principalmente no trânsito e muitas outras coisas que vemos a toda hora estão fazendo com que o turismo seja ruim para cidada, coisa que não deveria ser pois nossa economia depende disto.
Segue o artigo. É longo mas é interessante.
Turismo Predatório O balanço dos dez primeiros dias da temporada de praias em Santa Catarina é uma tragédia. Multiplicaram-se os protestos contra falta de educação de visitantes, ausência de fiscalização, inexistência de planejamento, omissão do poder público, silêncio criminoso de instituições e passividade inexplicável da cidadania. E não se está falando apenas da Ilha de Santa Catarina, onde os problemas crescem de forma assustadora. Situações inaceitáveis que irritam a tudo e a todos ocorrem nas praias do litoral norte e nos balneários do sul, com as exceções de praxe.
O trânsito é o pior de todos, o mais comum, o que tira o sério todo mundo em praticamente todas as cidades. Carro demais, é verdade! Mas competência de menos, também. Fica a sensação que nossas autoridades são “surpreendidas” pela demanda. Não se vê uma única medida para aliviar os calvários da Capital, repetidos em Porto Belo, Rincão, Balneário Camboriú, Mar Grosso, Arroio do Silva, Piçarras. É uma inércia irritante.
Segurança pública? Parece que a Polícia também tirou férias. Em Florianópolis, com uma agravante. Se o contribuinte com direitos violados chama a Policia Militar, é remetido para Guarda Municipal. Esta, até parece que foi extinta. Só aparece para multar.
Abusos
Se você e sua família lutaram anos para comprar uma casa ou um apartamento na praia, pensando, claro, em sossego, curtição com os amigos, conscientizem-se. O sonho virou pesadelo. Os estrangeiros chegam no pedaço, sentem-se donos da rua, estacionam na frente de sua garagem e promovem baladas até altas horas da madrugada. Lei do silêncio? Tente apelar ao bispo. Reclamação, nem pensar! Você corre o risco de levar um tiro no peito.
Bares e restaurantes proliferam nesta época do ano. Na verdade, botecos improvisados, sem alvará, que escancaram bate-estacas até a madrugada. Gente que só sabe fritar um ovo, ergue um barraco, coloca uma pia velha, enterra a ponta da mangueira na areia. Pronto: virou empresário. Acha-se o novo gourmet do pedaço. Prefeitura, vigilância sanitária? Esquece... E não ouse invocar sua condição de contribuinte. No país da impunidade, quem trabalha e pega imposto só tem valor no dia da eleição.
E o setor empresarial? Há investidores sérios e honestos que lutam, sim senhor, pelo turismo sustentável e querem turismo de qualidade. Mas há também segmentos que só sabem explorar os turistas. Uma lista que se inicia com alguns supermercadistas descarados nos reajustes abusivos, passa pelas novas tabelas de preços de bares e restaurantes e se completa com um sistema bancário defasado, defeituoso e anárquico.
Acapulco, na costa mexicana do Pacífico, a Saint-Tropez do século XX, paraíso das celebridades internacionais, cresceu demais. Recebia milhares de turistas estrangeiros. Hotéis, bares, restaurantes, pousadas, quiosques, casas noturnas multiplicaram-se, sem controle, como formigas. O famoso balneário perdeu as belezas, a tranqüilidade e todo o seu encanto. Os americanos construíram Cancun, no lado atlântico da costa mexicana. Para lá e para outros recantos se dirigiram os endinheirados. Acapulco perdera o charme e com ele os milhares de visitantes que geravam emprego e renda.
Se Santa Catarina não der um basta neste turismo predatório, está condenada a virar uma nova Acapulco. A continuar neste ritmo, muito cedo, e para lamento de quem investiu ou precisa de emprego, muita gente está e vai ficar contra os turistas e contra o turismo. (DC, edição impressa, 11-1-09)